segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dia e noite

Era dia em seus olhos, e os raios de luz percorriam todos seus poros. Há muito não sentira tamanha lucidez, tamanho silêncio agitado. Logo apressou-se em sair, mão ao telefone. Na resposta afirmativa dos companheiros se agarrara, e fora ter com a noite seu dia.
Moço recatado, pudico e timido era nosso personagem; dono de um coração vibrante mas eferrujado. Já fora duro como mole, já fora lindo como feio, já fora...
Saiu então nosso jovem, com o mundo no corpo e o corpo - sem saber - dividido. A lua resplandecia todos os seus anseios, impositivos e duros anseios. Mas hoje, apenas hoje, e um hoje tão forte, era fraco. Idéias conturbadas, dentes cerrados sem saliva no intermédio. Vontade acorrentada.
O dia brilhava em um lindo sol, mas usava guarda-sol. Passou o dia (a noite) protegido, e perdeu o sol. Sua pela continua branca, apática, cheia de filtro solar...
Na volta, um sentimento de agonia, de auto-desprezo, e se fazia noite a noite. Uma noite de lobos internos uivando a carne corroída. Nevoas desafiando a lucidez, e o frio estatizando seu coração, que ainda guarda os anseios, mas estes estão dormindo, enquanto seus olhos ardem pelo creme que lhe escorre a face.

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